Prefácio

Quando orardes, dizei: "Pai...". É o nome que o filho de Deus dá ao Pai desde toda a eternidade, o nome que pronuncia a todo momento com respeito e amor, o nome que vai repetindo silenciosamente no Sacramento do altar e que encontramos sem cessar nos lábios da Igreja, sua Esposa.

"Recebestes o espírito de adoção de filhos e é nesse espírito que clamamos: Abba! Pater!". O Espírito Santo derramando-se, com efeito, da Pessoa do Verbo inundou de graça a Humanidade de Cristo e a Igreja e arrasta-nos na vaga do amor até aos pés do Pai. Somos nós próprios os filhos do Pai. Este grito, que do fundo de nossas almas sobe sem cessar para Deus, é, sem dúvida, a oração privada que o Espírito Santo nos inspira à Igreja e se chama liturgia. Esta oração permite que todos os membros do corpo místico de Cristo participem autenticamente do culto de adoração infinita que Jesus tributa a Deus continuamente: "Sempre vivens ad interpellandum pro nobis", diz São Paulo.

É por Cristo que temos acesso ao Pai. E assim é que todas as orações da Igreja concluem: "por Cristo, Senhor nosso" e o cânon da missa termina por esta fórmula: "É por Ele, com Ele e Nele que vos é dada, Deus Pai onipotente, em união com o Espírito Santo, toda a honra e glória, por todos os séculos dos séculos."

A mediação de Cristo está a âmago de toda a vida cristã. É pelo ato sacrificial da sua imolação na cruz que Nosso Senhor Jesus Cristo nos alcança a Redenção, mas mesmo depois da sua ressurreição e ascensão ao céu, a sua atividade sacerdotal nenhum só instante deixou de se exercer em nosso favor junto do Pai. Quis, porém, que a sua intervenção medianeira continuasse a exercer-se na terra. Foi para isso que o Salvador instituiu a Eucaristia. Aquele que foi sacerdote e vítima na cruz é o mesmo que continua a oferecer-se no altar. "O sacrifício que se oferece no altar", diz o Concílio de Trento, "é o mesmo que foi oferecido no Calvário, portanto é o mesmo sacerdote e a mesma vítima.". Posto que invisível, Nosso Senhor Jesus Cristo, na missa, é o sacerdote principal, por isso na missa tridentina não tem concelebrantes; é em seu poder e apoiando-se na sua mediação que o celebrante consagra e oferece a Deus, em nome de Cristo e da Igreja, o santo sacrifício. A liturgia é por isso mesmo, para todos os fiéis, o meio de se unir à prece sacerdotal de Jesus e da Igreja e de prestar a Deus a satisfação superabundante e a glória infinita a que tem direito.

Mas a liturgia tem ainda em vista santificar os homens. Abrangendo o sacrifício da missa, os sacramentos e a oração pública da Igreja, é por ela que chegam até nós as graças de vida divina que o Pai, através do Filho, derrama nos membros do seu Corpo Místico.

É pela missa e pelos sacramentos, que constituem a própria essência da liturgia, que a Santa Igreja nos santifica. Fazer-lo ainda unindo-nos à sua oração, e iniciando-nos no espírito e na prática da vida cristã mais autentica. A primeira parte da missa, a "missa dos catecúmenos", é uma verdadeira catequese em que, constantemente lembradas no decurso do ano, as verdades do dogma e os preceitos da moral católica de Cristo e com as festas dos santos. A compenetração deste ensinamento assíduo, da vida sacramental e de uma vida de oração que é a oração mesma da Igreja, torna a liturgia fonte indispensável da vida cristã.

O missal franqueia-nos todas estas riquezas; é o guia seguro em que a Igreja, encarregada das nossas almas, nos traça, com solicitude maternal, o itinerário a seguir para chegar infalivelmente, por Cristo, a Deus.